Há quatro anos, a cantora e compositora mineira Luiza Brina vinha trabalhando em seu quarto disco de estúdio, “Prece”, e na semana passada seu trabalho finalmente chegou ao público.
Em uma busca pela união de suas referências nacionais e de seus estudos pela América Latina, a artista co-produziu o disco junto ao hoje onipresente Charles Tixier, conhecido entre outras coisas por seu trabalho com outra Luiza, a paulistana Lian.
“Prece” (capa abaixo) conta com dez faixas. E para elas Luiza escreveu todos os arranjos, que foram gravados por uma orquestra composta por 19 mulheres.
O disco também contou com as percussões do chileno José Izquierdo, seu professor de longa data, e ainda trouxe um conjunto muito relevante de participações, incluindo a primeira participação da mexicana Silvana Estrada em uma música brasileira.
Todos esses detalhes de feitura do álbum são necessários destacar, porque demonstram a dedicação de Luiza nas minúcias para tornar sua nova obra relevante para o cenário da música brasileira contemporânea.
Através das canções de “Prece”, Luiza Brina parece buscar respostas às crises de pânico e a uma falta de fé religiosa, e acaba encontrando nas músicas os mantras e orações que a guiam para compreender melhor sua existência e suas dores.
Ao longo das audições, e a depender do ouvinte, diferentes partes do disco ganham ênfase. Mas uma das faixas cujo destaque foi imediato e segue impactante foi o primeiro single, “Oração 18 (Pra Viver Junto)”, onde Luiza reflete sobre a necessidade de se compreender como indivíduo para fazer parte do coletivo.
Apesar de não ter uma religião definida, Luiza Brina explora em suas composições suas raízes de origem africana e, consequentemente, as religiões dessa matriz familiar, com destaque para as canções “Oração 13 (Coração Candongueiro)”, com participação do cantor mineiro, Sérgio Pererê, e “Oração 19 (Oração pra Oxum)”, parceria de Brina com a conhecida Iara Rennó.
Musicando suas reflexões, vale ainda o destaque para as experimentações de arranjos de Luiza ao longo do disco, que exploram muito as nuances de diferentes estilos rítmicos da América Latina, assim como revisita estilos clássicos de arranjo com manipulações eletrônicas (e aqui Tixier contribui bastante), trazendo um significado diferente para o que as pessoas imaginam quando pensam em uma orquestra.
Para um mundo que ainda está se restabelecendo após o caos da pandemia, mas segue enfrentando os desafios de um planeta em ebulição e uma sociedade desconectada de suas raízes, “Prece” surge como um trabalho muito sensível e que urge que as pessoas pausem para se reconectar com sua espiritualidade como resposta ao caos.
Ouvir o disco-oração de Luiza Brina é uma viagem para dentro. Para dentro dela e, a artista espera, para dentro de cada um também.