CENA – Aquino traz uma megalomania indie no segundo álbum. O que achamos de “Nada Fica Muito Tempo Exposto ao Sol”

Em um ano de muitos lançamentos de destaque, como o primeiro álbum da Pluma e o disco duplo d’O Grilo, a banda carioca agora chamada Aquino (antes era Aquino e a Orquestra Invisível) confiou em seu produtor experiente e se jogou em sonoridades mais solares para lançar nesta semana seu segundo álbum, “Nada Fica Muito Tempo Exposto ao Sol”.  A gente conta como é o disco e ainda bate um papo com o trio.

Com os planos para seu disco de estreia (“Os Prédios Cinzas e Brancos da Av. Marcanã”, de 2021) atrapalhados pela pandemia, a Aquino correu atrás do prejuízo dos anos parados e acumulou alguns aprendizados, por exemplo no aperfeiçoamento de sua performance ao vivo, ao tocar em palcos de destaque como o do Cine Joia, em São Paulo, e no do Circo Voador, no Rio. 

Inclusive, esse show no Circo em 2022, que por si só já seria um marco na vida de qualquer artista carioca, foi apenas a terceira vez que o vocalista e guitarrista João Vazquez encarou uma plateia fora de clubinhos. 

Entre a estrada e as experimentações em estúdio, o trio formado por João Soto, Leandro Bessa e João Vazquez lançou um EP, “Aquino e a Orquestra Invisível”, em 2022. Foi um trabalho que expandiu a presença de elementos do pop da banda.

“O EP foi importante, porque deu para a gente explorar o pop mais escrachado ainda do que a gente botou neste segundo disco. Foi um exercício legal também depois de o primeiro disco ficar um pouco mais sério. Mas eu acho que essa é a primeira vez que a gente de fato está compartilhando o que cada um sabe fazer de melhor”, revelou Vazquez à Popload. 

O trio de amigos pessoais, que começaram a fazer música na escola cresceram, deixou para trás uma certa melancolia e os arranjos orquestrais para abraçar uma vertente que une o pop às referências de MPB mais clássicas, criando um som mais acessível.

“A mudança no nome da banda representa muito realmente essa fase nova, sabe? Nós três fazendo as coisas muito juntos”, explicou Leandro, que entrou na banda depois, “Então este álbum novo realmente representa a coesão, sabe? A síntese dos três.”

“Porque na verdade somos quatro, né? Não é assim, somos três, mas somos quatro porque contamos o nosso produtor também”, completou Soto.

Com a figura do experiente produtor Sidney Sohn Jr., que veio do metal e tem trabalhos até indicado ao Grammy Latino, Soto e Vazquez puderam sonhar com os arranjos mais megalomaníacos para suas composições e confiar que Leandro e Sidney encontrariam os plug-ins e beats certos para traduzir as ideias para a realidade.

A banda já entrega um pouco de todos os elementos dwe “Nada Fica Muito Tempo Exposto ao Sol” (capa acima) na primeira faixa, “Cobra-Coral”. Com beats que misturam elementos orgânicos de percussão com processamentos eletrônicos, a composição cresce em cima do arranjo ritmado em uma união de pop com música brasileira. 

O disco segue animado para o primeiro single do disco, “Amor Sintético”, e tem sua primeira virada em “Como Você”, uma balada com referências latinas que foca diretamente no tema de romance que permeia o álbum. 

Vale aqui um destaque para a faixa seguinte, “Neotropical”, que talvez seja a melhor definição do som da Aquino, que bebe nas fontes da tropicália dos anos 1960 em partes iguais às músicas pop e latina da sua geração.  E, para além das referências musicais, a faixa reflete sobre a vida até este momento, permeada por lembranças de João Vazquez de crescer nas florestas do Norte do país à viagens pelo Nordeste e vivências tropicais no Rio de Janeiro, como cada parte que construiu o todo que é a Aquino. 

A audição vai seguindo para “Onda do Mar”, uma canção extremamente carioca e “Lágrimas Contemporâneas”, que é a faixa mais antiga do disco, composta em 2020 e, consequentemente, a que mais se assemelha ao trabalho anterior da banda. 

Mas, apesar da maturidade no processo de produção, a Aquino não deixa de ser composta por três meninos de 20 e poucos anos que às vezes só querem ficar com seu crush e ter uma camisa nova do seu time do coração, como “Camisa do Flamengo”, segundo single do álbum, evidencia. 

Em “Ela”, o trio deu um jeito de incluir todas as suas referências, inclusive alguns samples gringos, citando de “Beto” Gil aos Doces Bárbaros, Xuxa e Milton Nascimento. E antes de fechar, o trio entrega mais uma carioquice com o funk, “Vapor de Cachoeira”.

Para encerrar com um recado importante, a banda escolheu a faixa “Tudo o Quanto É Lindo”, que reforça o fato de que, por mais pop que sejam/estejam, a Aquino sempre terá suas raízes nas composições de voz e violão do princípio. 

“A gente sempre foi muito megalomaníaco”, confessou Vazquez.

E essa megalomania a que ele se refere, de criar arranjos grandes com muitas camadas e ir sempre além do que só o trio poderia fazer sozinho, rendeu um bom segundo disco, em que as composições crescem graças à modulações eletrônicas nas vozes e sintetizadores. A banda conseguiu sintetizar em 11 faixas que mesclam temas da juventude, referências ao Rio de Janeiro e as vivências da banda pelas estradas, que sintetizam melhor a nova fase da, agora, Aquino.

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* A foto da Aquino na chamada para este post, na home da Popload, é de Dex Magalhães. A capa do álbum também é dele.

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