Às vésperas de lançar seu novo disco, os gaúchos da banda Supervão subiram ao palco de um festival de Porto Alegre, apresentado por Carlinhos Carneiro para tocar na íntegra o inédito “Amores e Vícios da Geração Nostalgia“, com nova formação e um som totalmente diferente do que as eletronices apresentada em épocas passadas — do antigo trio, que mais recentemente se tornou dupla, e agora quarteto.
Após um período sombrio no Sul do país, a cena cultural de Porto Alegre e de toda a região metropolitana vem se reunindo cada vez mais para que shows, lançamentos e festivais voltem a acontecer na cidade.
Exemplo disso foi o festival “Baita Troço“, liderado pelo eterno vocalista da Bidê ou Balde e indie hero porto-alegrense Carlinhos Carneiro, que, em um domingo ensolarado, trouxe o show de quatro bandas locais, entre elas a Supervão.
Após o lançamento de “Faz Party” (2019), com circulação por todo o Brasil, vinil e divulgação nos principais veículos especializados do país (inclusive na Popload), a sempre inquieta Supervão passou por momentos de experimentação e redescoberta. O projeto, que já foi um trio, se tornou uma dupla com Mário Arruda e Leonardo Serafini, lançando o EP “Depois do Fim do Mundo” em 2020 e mergulhando em sua fase mais “tecno”.
Após o EP, a dupla soltou uma série de singles com várias participações de artistas locais, até que, no final de 2023, divulgou “Nostalgia“, o primeiro single do trabalho que ganharia data de lançamento para um ano depois.
Na nova sonoridade, os beats eletrônicos deram lugar às guitarras e bateria acústica, trazendo referências que sempre estiveram no som da Supervão, mas agora menos sintetizadas.
Já em 2024, a dupla anunciou a chegada de mais dois integrantes: Olimpio Machado no baixo e Rafaela Both na bateria. Com essa adição, a Supervão subiu aos palcos como quarteto em seus últimos shows, marcando o início de uma fase totalmente diferente para quem conheceu a banda como uma dupla de música eletrônica experimental.
Como mencionado, o show apresentou o novo disco, ainda inédito, na íntegra, sem bases gravadas ou notebooks no palco, apenas duas guitarras, baixo e bateria. Para os desavisados, poderia ser um choque, mas para os fãs de longa data, foi apenas uma nova versão do mesmo espírito caótico que a Super sempre gostou de trazer aos shows.
Entre os destaques da apresentação esteve a faixa “Cabelo“, um dos singles já lançados, que contou com a participação da lenda Andrio Maquenzi, da banda gaúcha Superguidis, referência do indie rock no Rio Grande do Sul entre 2000 e 2010, que está retornando aos palcos com apoio do selo Balaclava Records para comemorar os 20 anos do seu primeiro disco, com turnê comemorativa e versão em vinil.
Além do single, o quarteto chamou o público para a roda com “Nostalgia“, apresentou a balada “Querendo um Tempo“, ótimo feat com a cantora paulista Papisa, e desfilou sons que resgatam as influências que formaram a Supervão, o indie rock com riffs que lembram os primeiros discos dos Strokes e guitarras — e baixo — bem altos.
O público, formado basicamente por amigos e membros de outras bandas, lotou o Estúdio Legato, ícone da cena local, um espaço duramente atingido pelas recentes enchentes, que vem se recuperando aos poucos com o apoio de iniciativas como o “Baita Troço”.
Os fãs mais antigos do hoje quarteto não se surpreenderam tanto com a nova sonoridade da banda e até entraram na roda junto com o vocalista Mário Arruda, que alternava entre o microfone e a guitarra, subindo e descendo do palco, elétrico como de costume, mas agora sem os aparatos eletrônicos que o duo sempre utilizava.
“Amores e Vícios da Geração Nostalgia” será lançado oficialmente em todas as plataformas no próximo dia 8 de novembro, mas terá um show especial de estreia (agora sim oficial) no dia 23 do mesmo mês, em uma das casas que também sofreu com as águas de maio, o espaço Hum, às margens do rio Guaíba.
Esta nova apresentação ao vivo promete uma Supervão ainda mais entrosada e uma performance exclusiva para apresentar o novo disco, nova formação e nova fase.
Em entrevista recente a um podcast local, o Cuscocast, o quarteto explicou mais sobre as motivações da reviravolta sonora presente nas novas composições, além de estarem alimentando um blog que serve de “diário de gravação” – vale a pena acompanhar.
*A foto que ilustra a publicação é de divulgação da Supervão.
* A foto do show é de Martina Josefiaki.