Foo Fighters pode ser uma das bandas de rock mais famosas do mundo, com quase 30 anos de sucesso, liderada por um cara de biografia tão ampla quanto o Dave Grohl, mas sua discografia em si não é das mais consistentes.
Hoje, temos o lançamento de seu 11º disco, esse importante-por-tudo-o-que-envolve “But Here We Are”, e estamos aqui para contar se esse fica entre os melhores ou piores da banda.
Os dois primeiros discos do FF, “Foo Fighters” (1995) e “The Colour and the Shape” (1997), são respeitadíssimos até hoje, mas foram seguidos por uma sequência de quatro trabalhos medianos, pontuados por singles populares que se mantêm nos setlists do grupo até hoje.
Em 2011, um ponto de esperança: “Wasting Light” era surpreendentemente dinâmico e repleto de músicas memoráveis, dando a impressão de que os Foos estavam entrando em uma nova fase criativa. Daí vieram mais três discos majoritariamente genéricos e esquecíveis.
Até 2022, não havia qualquer motivo para achar que o FF teria um novo pico de qualidade em sua música. Aí 2022 aconteceu. Taylor Hawkins, baterista da banda desde 1997, morreu. Quatro meses depois, a mãe de Dave Grohl, Virgínia Grohl, também faleceu.
“But Here We Are”, o novo disco Foo Fighters que chega hoje aos nossos ouvidos, é dedicado a ambos. Não estamos aqui para propagar o clichê de que arte boa só vem do sofrimento (até porque isso nem é verdade), mas fica óbvio que a banda tinha mais a dizer aqui do que na maioria de seus discos passados. Os temas mais difíceis de se abordar podem resultar na melhor arte.
A abertura com “Rescue Me” e “Under You” é boa, mas nada especial – poderia iniciar qualquer disco do Foo Fighters da fase média. No entanto, já começam a deixar escancarado que as letras aqui provavelmente falam sobre as perdas de Taylor e Virgínia. Talvez Grohl nunca admita sobre o que escreve de fato, mas neste caso nem é necessário interpretar muito.
As duas faixas seguintes são bem mais interessantes. “Hearing Voices” é principalmente carregada pelo baixo e brevemente lembra um pós-punk, algo que o FF poderia fazer com mais frequência. O fim acústico da música parece ser tirado de uma versão demo dela, e esse pequeno detalhe de produção já traz uma variedade sonora mais valiosa que os últimos três discos juntos.
Já a faixa-título “But Here We Are” aposta nos ritmos dinâmicos e pesados. Soa como FF clássico, mas sem ser enjoativo.
É uma pena que nem todo o álbum esteja livre do lado enjoativo do Foo Fighters. “The Glass”, “Nothing at All” e “Beyond Me” parecem feitas no piloto automático, completamente inseridas na zona de conforto musical da banda. Suas letras podem ser interessantes (aliás, são quase no disco todo), mas as músicas não acrescentam nada de valor à discografia deles.
Felizmente, temos “Show Me How” para ficar na memória a melhor do disco, e talvez uma das mais bonitas da carreira da banda de Dave Grohl. Não bastasse a surpresa da instrumentação meio shoegaze (isso mesmo), Dave ainda divide os vocais com sua filha, Violet Grohl.
Na sequência vem “The Teacher”, uma clara homenagem a Virginia Grohl, que é tão boa que facilmente justifica seus 10 minutos de duração. O encerramento com “Rest” é previsivelmente carregado de emoção, mas sua explosão de guitarras distorcidas evita que soe piegas.
Essas três faixas que destacamos aqui comprovam o que descobrimos em 2011, com “Wasting Light”: o Foo Fighters cresce e grava seu melhor material quando foge da estrutura padrão do rock e trabalha com músicos convidados – músicos audíveis, diga-se de passagem, porque Paul McCartney tocando bateria não faz diferença alguma. É uma pena que a banda nem sempre utilize isso a seu favor.
“But Here We Are” pode não ser tão acessível quanto os trabalhos mais famosos da banda, nem produzir singles tão clássicos quanto “Learn to Fly” ou “Best of You”, mas está entre os discos mais consistentemente bons do Foo Fighters.
O que para nós é uma boa notícia, já que no futuro próximo vamos “viver Foo Fighters” bastante, com este disco e recebendo a banda para shows.
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* A foto do “novo” Foo Fighters usada para este post é de Danny Clinch.