por THAÍS FERREIRA
Depois de 11 anos longe dos palcos brasileiros, a banda inglesa The Vaccines se apresentou na última quinta-feira (21) no Cine Joia, em São Paulo, numa noite organizada pela Balaclava Records. Com a casa lotada e show de abertura do local Apeles, o grupo britânico claramente comoveu o público da casa ao ativar o botãozinho da “nostalgia” nas pessoas presentes.
Se em 2013, quando estiveram aqui pela última vez, os Vaccines só tinham dois álbuns na bagagem, agora eles voltaram na turnê do sexto disco, “Pick-Up Full of Pink Carnations”, lançado em janeiro deste ano. Da época de seu surgimento e estouro na década passada até esta nova visita, não foi só o tamanho da discografia que mudou.
A formação original da banda já não é mais a mesma; apenas o vocalista Justin Young e o baixista Árni Árnason – que não participou do show devido a uma morte na família – permaneceram. Eles dividem espaço com Timothy Lanham, na guitarra e teclas, e Yoann Intonti, na bateria.
Em paralelo a essas mudanças, os fãs dos Vaccines foram crescendo, envelhecendo, mas sem deixar as músicas da banda de lado. “Uma das melhores coisas para mim sobre turnês é ver rostos familiares e rostos novos, mas também gosto de ter conversas como essa, em que você percebe que a sua música é importante para as pessoas. Eu acho que quanto mais fazemos isso, mais sorte sinto por termos encontrado nosso público”, Young contou à Popload momentos antes de subirem ao palco do Cine Joia para seu show único no Brasil.
Foi com uma pergunta que a banda deu os primeiros passos de sua carreira: What Did You Expect from the Vaccines? O álbum de estreia, de 2011, chegou como um dos últimos da leva que marcaria uma geração que passou a adolescência e o começo da vida adulta ouvindo indie rock. Naquele mesmo ano, The Strokes e Arctic Monkeys lançavam seus quartos discos, enquanto The Kooks e The Maccabees compartilhavam o terceiro.
Do Tumblr à cultura pop, o som do The Vaccines fez muito barulho. “Girls”, “Skins” e “Gossip Girl”, séries famosas à época e conhecidas pelas suas trilhas sonoras, usaram músicas da banda como pano de fundo de suas histórias.
Justin Young, que cresceu tendo Nirvana como companhia, sabe na própria pele com as músicas dos outros como as suas podem ter sido importantes para muitas pessoas. “A música meio que me salvou quando eu era criança. Eram tantas as canções que eu sentia que falavam diretamente comigo que eu sempre quis tentar fazer as minhas”, diz.
Ainda que o novo “Pick-Up Full of Pink Carnations”, seja marcado por tons otimistas, como em “Discount De Kooning (Last One Standing)”, o sexto disco dos Vaccines percorre o luto e a nostalgia do que ficou para trás.
Esses elementos aparecem logo na capa do trabalho: o registro de uma viagem de carro que Justin fez ao deserto de Joshua Tree, numa noite de eclipse lunar – daí a inspiração para a faixa “Lunar Eclipse”, escrita no dia seguinte.
“Eu postei a foto no meu Instagram alguns dias depois que ela foi tirada. E, na época em que estávamos pensando numa capa, lembrei dela e achei que a imagem seria ótima. Adoro o fato de que há uma cena linda na minha frente, mas você vê o espelho retrovisor e não sabe se estou olhando para frente ou para trás, e acho que é assim como frequentemente me sinto em relação à vida”, o vocalista compartilha.
Essa atmosfera de road trips atravessa “Pick-Up Full of Pink Carnations”, assim como outros álbuns da banda também funcionariam nesse contexto. Quando viaja de carro, Justin costuma ter uma playlist diversa, que vai da música clássica ao mariachi, incluindo também a bossa-nova. A ideia é que pareça cinematográfico.
No voo para o Brasil, foi a nossa música que ele veio ouvindo. Durante a entrevista, Young compartilhou seu Spotify. Tom Jobim, Astrud Gilberto, Elis Regina e João Gilberto foram alguns dos artistas que o acompanharam na viagem.
A literatura também deixa seus rastros em “Pick-Up Full of Pink Carnations“. O escritor dark americano Edgar Allan Poe, conhecido pelo seu lado sombrio, contrabalanceia os momentos mais positivos do álbum. Em “The Dreamer”, o escritor é citado. E no vídeo de “Lunar Eclipse”, Justin aparece segurando um livro dele. “Gosto bastante da morbidez e da escuridão que há na obra de Poe”, Young compartilha.
“Eu não leio muita ficção. Gosto de ler biografias históricas e coisas assim. Mas tenho muita poesia e ficção em minha casa que as pessoas me dão. Quando estou escrevendo, pego esses livros e digo: ‘Ah, essa é uma palavra interessante ou uma frase interessante’. Então quase não quero lê-los. Eu só quero abrir uma única página e descobrir o que vou encontrar”, continua.
Da emotiva apresentação no Brasil, ficou a promessa de um retorno que não leve outros dez, 11 anos para acontecer. Olhando para frente e para trás, o que fica no meio do caminho é a pergunta “What Did You Expect from the Vaccines?”. Quem foi ao show teve sua resposta bem clara.
* Este texto e a entrevista com Justin Young, dos Vaccines, são da colaboradora poploader Thaís Ferreira.
** As fotos p&b dos Vaccines usadas para este post são de Isa Vianna, clicadas no show do Cine Joia semana passada.