Uma das mais insólitas praças indie da música brasileira, pela geografia e distância do eixo, Manaus ganha destaque aqui no nosso MAPA. A cidade do Norte do país, capital do Amazonas, sua produção musical local radiografada. O MAPA DO ROCK da Popload, que tem apoio da GOL Linhas Aéreas Inteligentes, chega à sétima. Manaus segue as movimentações indie de Goiânia, Curitiba, Brasília, Fortaleza, Porto Alegre e Belo Horizonte.
O MAPA DO ROCK é uma seção fixa da Popload que está mapeando a #CENA de algumas das principais cidades brasileiras. As bandas locais de destaque, seus principais palcos, os bares que apoiam a música, os festivais e festas que movimentam a coisa toda, os agitadores que fazem tudo acontecer, as apostas indie e, já que estamos in loco vendo a #CENA com os próprios olhos, algumas das nossas dicas do que fazer, onde comer, o que visitar e, principalmente, POR QUE ir até lá.
Manaus: população de quase 2,1 milhões de habitantes na área metropolitana (2016), o que a faz o sétimo município mais populoso do Brasil. Público do último festival “Noites do Norte”, em abril: 15 mil pessoas.
Manaus é um ponto fora da curva na cena de música no Brasil. Isso porque a capital amazonense tem atualmente uma movimentação artística em construção, no que se considera um cenário alternativo. Esse espaço é múltiplo e bem democrático. Quem visitar a cidade precisa saber que, nos últimos cinco anos, as produções não cessaram e teve muita banda produzindo e ressignificando o fazer música longe do eixo sul-sudeste. Mas a movimentação do rock na cidade não começou dia destes. Há pelo menos 50 anos, a cena alternativa vem sendo consolidada na capital. Nos anos 60, por exemplo, o palco do Teatro Amazonas não só recebeu Os Mutantes, em um dos festivais estudantis da época, como estes escolheram a música “Jogo de Calçada”, dos compositores amazonenses Wandler Cunha e Ilton Oliveira, para incluir no álbum “Divina Comédia ou Ando Meio Desligado”, lançado em 1970. Nesse mesmo famoso palco, a banda americana White Stripes, em 2005, fizeram história com um dos shows mais marcantes da música independente na capital, apresentação essa que até DVD e vinil acabou virando um tempo depois, levando o nome de Manaus para além do Equador. Em paralelo às grandes aparições de fora da região, bandas, artistas, festivais solidificaram o movimento de contracultura local e sustentaram por muito tempo a geração independente de grandes gravadoras e de explosão no cenário nacional. Essa mesma galera que movimentava a música em Manaus, destaque para Edilson Seta (banda Olhos Imaculados), Mencius Melo (da Zona Tribal), Guto (da Underflow) e Clóvis (da Platinados e Tucumanos), fugia de covers e dominava a produção de música autoral. Enquanto esses produtores locais criavam e recriavam essa cena através de novas iniciativas, outras bandas também vieram de muito longe para conhecer as belezas que não só Manaus tem, mas que a área verde mais rica do mundo, que fica do ladinho, pode dar. Em 2016 o Animal Collective produziu um álbum em plena Floresta Amazônica e trouxe os holofotes mais uma vez para a região tão importante para o país. A gravação virou documentário, trouxe músicos e produtores para o local e mostrou a região com o olhar exótico que os gringos adoram, mas que representa em toda a sua forma a vida urbana e pulsante que a capital Manaus apresenta. Se essas visitas gringas parecem indicar uma atividade musical baseada em aparições externas, não se engane. A região como um todo é musicalmente autossustentável, pois, ainda que tenha bandas que alcançaram (e ainda alcançam) destaque nacional (como Alaíde Negão, Luneta Mágica, Anne Jezini, Márcia Novo), ela continua se retroalimentando do que produz. E tem muita banda e artista cada vez mais fortalecendo a cena. As produções de música nova não param. E tão bem longe de querer parar e só consumir o que o resto do Brasil lança.
O Tronxo
Anônimos Alhures
Antiga Roll
Durmo Embaixo
Dpeids
Márcia Novo
Gramophone
Boomerang Blues
Cabocriolo
Infâmia
Qua$imorto
Igor Muniz
Superbad
Holodomor
Nativos MCs
Lary Go
Mulheres in Rima
Conexão Zona Norte
333
Arte e Fato
rua 10 de julho, 452, Centro
Balada, música local e com preços acessíveis. O lugar fica ao lado do Teatro Amazonas e garante ótima vista para um dos principais pontos turísticos da região. Ideal para quem está hospedado ou de bobeira pelo Centro da cidade.
(1)
Chopperia Curupira
rua Barroso, 346, Centro
Shows locais, culinária local e DJs. A Curupira tem um chope da produtora local Cervejaria Rio Negro. Grupos de música autoral manauara se apresentam ali. Um cardápio interessante traz comidas com temperos locais.
(2)
Tacacá na Bossa
largo de São Sebastião, Centro
Situado na praça onde fica o Teatro Amazonas, sempre às quartas apresenta shows de bandas locais em uma ótima estrutura. Além do evento musical, às vezes balada, ainda é possível experimentar o famoso Tacacá, iguaria famosa da culinária amazônica.
(3)
Local Hostel
rua Dona Libânia, 215, Centro
O Local Hostel, lugar pensado com uma atenção especial para questões de sustentabilidade, apresenta em sua programação alguns shows de banda local. Comida boa e bebida gelada acompanham.
(4)
Mao Hostel
rua Barroso, 365, Centro
Aqui é como morar na balada por algum tempo. O hostel, de espaço bem agradável, é perfeito para quem busca se hospedar em um lugar agitado. Sua programação sempre traz festas e shows de artistas locais.
(5)
DaVárzea das Artes
rua B, casa 2, conjunto Jardim Yolanda, parque 10 de Novembro
Um espaço cultural de circulação de conhecimento e de produção voltadas às artes visuais, audiovisual e música localizada no Centro. Promove exposições artísticas e oficinas de formação, vivências culturais e base para produções artísticas independentes. E ainda realiza bailes musicais, performances, cineclube e outros eventos de entretenimento, como shows.
(6)
Espaço Cultural Muiraquitã
alameda Itália, 100, conjunto Petros, Aleixo
Espaço coletivo com diversas apresentações culturais e festas. Fica mais afastado do Centro, mas vale a pena a ida até lá. O Mumu, como é chamado, fica num “quintal” e é bastante movimentado. Só ficar de olho em sua página do Facebook para saber quais as datas das festas, pois ele não abre todo fim de semana.
(7)
Teatro Amazonas
largo de São Sebastião, Centro
Cartão-postal da cidade, o Teatro Amazonas não pode ficar batido na visita a Manaus. Inaugurado em 1896, durante o ciclo da borracha, ele tem estilo renascentista e é um dos mais importantes monumentos do Brasil. Vale ficar de olho na programação musical, de orquestras a shows.
(8)
Edmilson Lanches
parque 10 de Novembro
Manaus têm poucos lugares que ficam aberto no fim da noite e madrugada, mas sempre tem o lanche do Edmilson para salvar vidas esfomeadas com seu famoso x-salada. É uma boa pedida para quem está “brocado” (gíria local para dizer que está com muita fome).
(9)
Lanche do Careca Lindo
rua Visconde de Porto Alegre, 1543-B, Centro
O Lanche do Careca Lindo se destaca por várias coisas: o atendimento, os lanches e a variedades interessantíssima de sucos, muitos com frutas típicas. Inclusive tem um desafio de misturas de frutas que, se você acertar os sabores, não precisa pagar.
(10)
Barão Cervejaria e Empório
avenida Prof. Nilton Lins, 1770, Flores
O lugar tem uma variedade de cervejas, nacionais e internacionais, e um chopp bem gelado. Não saia de lá sem pedir a “batata especial”.
(11)
Santa Brêja
avenida Djalma Batista, 2010, Chapada (Manaus Auto Shopping)
Endereço de comidinhas obrigatório, apesar do nome cervejeiro, o Santa Breja, além de cardápio variado, tem atendimento é ótimo. Experimente o “kikoxa”, bolinhas de queijo com pedaços de coxa de frango misturadas com molho branco.
(12)
Ferrugem Rock Gourmet
avenida Pedro Teixeira, 1000, Dom Pedro
Cerveja sempre gelada e ótima música. O local fica na estrada da Praia da Ponta Negra e é uma ótima pedida para quem quer beber e comer antes de dar rolê. Vale experimentar o filé ao Oswaldinho, recomendadíssimo.
(13)
Se formos pensar de qual estilo se sustenta a cena de música independente manauara, não vamos conseguir definir. Afinal, ela vai desde o rock experimental, rock regional, indie até chegar no rap, pop e brega. Essa movimentação toda acaba por tornar a cena democrática, onde, em festivais de música, tem espaço para todas as facetas. Isso tudo acontece não só pela diversidade da produção, mas principalmente porque foram os festivais um dos principais responsáveis pela movimentação da cena. // Se pensarmos que na década de 90 a galera tava insana com festivais como Fronteira Norte e Festival Universitário de Música (FUM), nos anos 2000 o número de encontros musicais aumentaria significativamente e daria um “up” nas produções locais. // Essa crescente leva de eventos abriu espaço para nomes como o Noites do Norte, que nasceu, em sua essência, com o objetivo de promover o intercâmbio cultural e artístico entre Manaus e o restante do Brasil. O resultado disso são shows que somavam quase 20 horas de música no centro histórico da cidade, oferecidos gratuitamente à população. Na última edição, em 2017, cerca de 15 mil pessoas prestigiaram o evento. // Paralelo a isso, o Festival Até o Tucupi, vinculado ao Coletivo Difusão, também é um dos eventos responsáveis por conectar os pontos da nova cena, focando em atrações locais que vão além da música, criando um grande festival cultural que, por mais que abra espaço para o novo, já existe há 10 anos na região.// O Festival Pirão (foto acima) não poderia estar de fora desta lista, já que em 2017 chegou a sua vigésima edição misturando bandas e DJs locais. Outro desses que incluem artistas da cena mais recente é o Fuá, que acontece mensalmente na Fundação Amazonas Sustentável.// Se o assunto são festivais e palcos maiores, ainda existem outros espaços que devem ser citados quando se fala da existência de uma cena de produção em Manaus: São eles o Mama Rock, Vinil Rock, Maroca Rock Festival, o Cauxi, além do Festival Hip Hop e Malaba Jam (foto abaixo), além, de outros que vão surgindo e se modificando com o passar dos tempos, não mantendo necessariamente a tradição constante de grandes edições, mas que, muitas vezes, acabam movimentando pequenos grupos de pessoas em diversos pontos da capital. // Para além dos festivais, ainda se pode citar feiras que não necessariamente se enquadram nesse padrão de juntar bandas e tribos mas que também fazem a produção musical locar florescer, como é o caso da Feira Passo a Paço, que acaba reunindo até 30 mil pessoas em dois dias de evento, trazendo gastronomia, música, teatro e cinema na região.// Saindo dos festivais e eventos que estão ao redor desse circuito, os coletivos e selos que vêm surgindo também acabam abrindo espaços capazes de tornar a cena manauara ainda mais democrática. O coletivo Picolé da Massa é um desses nomes. Um grupo formado por artistas do Norte do país que misturam música, audiovisual e artes visuais em eventos que organizam pela cidade. Suas festas, normalmente acontecem no DaVárzea das Artes, reúne Djs e artistas locais, além também das suas exposições e mostras itinerantes que complementam a agenda.// Outro que movimenta e faz isso há 10 anos já, é o anteriormente citado Coletivo Difusão, que mistura em suas atividades, shows, conversas, festas e até workshops ligados a discussões políticas e expressões artísticas, além, claro, do Festival Até o Tucupi, em que eles também estão intimamente ligados. // Ainda falando de nomes que movimentam a cena manauara, o recente DIXE Records aparece como um dos selos da região que teve um palco com bandas locais dentro da última edição do Festival Noites do Norte.// Ao mesmo tempo que esses festivais, coletivos e selos se articulam entre produções e lançamentos, em toda essa movimentação, um destaque especial vai para as mulheres amazonenses. Cantoras como Anne Jezini, Elisa Maia, Márcia Novo, Olívia de Amores, Dkuena Tikuna, Nanda Cruz, Lary Go estão em produção a todo vapor para cantar os gritos das mulheres do Norte e dar uma cara menos masculina a tudo isso. Inclusive, o festival de artes integradas Até o Tucupi vai dedicar sua próxima edição, em novembro, às reflexões de negritude e o reconhecimento das mulheres amazônicas no Brasil. // Enquanto isso, vários pontos de cultura da cidade continuam recebendo o que os artista estão produzindo. E, acredite, a cidade de mais pouco mais de 2 milhões de habitantes tem um grande público para prestigiá-los, mesmo atraindo públicos de outros estados. A banda Tudo Pelos Ares, por exemplo, é uma delas, que na edição de 2017 do gigantesco Rock in Rio é a única representante de Manaus. Além deles, outros nomes também circulam fora das fronteiras de Manaus e região, como é o caso da independente Luneta Mágica e também da Alaíde Negão, que já excursionam nacionalmente para tocar.
1. Elisa Maia
Elisa é um dos braços mais importantes para a movimentação cultural em Manaus. Além de cantora, ela trabalha com produção cultural, integrando o Coletivo Difusão, o que já resultou em produção de projetos como o Grito Rock, Festival Até o Tucupi de Artes Integradas, Noites Fora do Eixo, que trouxe para a capital shows de nomes como Macaco Bong, Emicida, Mombojó, Los Porongas, Móveis Coloniais de Acaju e Teatro Mágico. Elisa articulou ainda e produziu a turnê da banda amazonense Supercolisor pelas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil.
2. Luana Aleixo
Luana é uma das responsáveis pelos melhores setlists de festas da capital. Desde 2009, tempo áureo das bandas alternativas em Manaus, ela começou a discotecar. Antes era só rock, mas depois o leque de estilos se expandiu e, em 2011, junto com a irmã, criou a produtora Gold Gun Girls. De lá para cá foram mais de 20 eventos criados e produzidos, paralelamente com o trabalho de tocar em festas. As mais famosas são Tereza, Miga, Segura Essa Barra, Noventonna, Momentos. Além de tocar e participar da produção local de festas nacionais, como a Indie Party, Pop Me Glow e Rocknbeats.
3.
Victor Xamã
O Victor Xamã, vocalista da banda Qua$emorto, é um dos principais expoentes da cena de rap e hip hop em Manaus. Cantor, compositor, beatmaker e produtor, Victor é bastante respeitado e organiza vários eventos do estilo na capital. Mas seu nome não brilha só em Manaus. Já fez participações em músicas com Um Barril de Rap, A.I.M.A, Diomedes Chinaski, Dalsin, Menestrel, expoentes do rap nacional, e produziu músicas também para Spvic (Haikaiss), Matheus Coringa e Baco, que têm grande prestígio no Brasil. É um dos grandes cotados pra explodir pro Brasil, quiçá mundo, o trabalho do rap da capital amazonense.
4. Davi Escobar
Davi Escobar, dentro do Cauxi Produções, consegue trazer para dentro da capital amazonense uma série de melhores festas, bandas e porres. Anualmente, desde 2009, Manaus conta com o Festival Cauxi, bloco de carnaval Cauxi Eletrizado, Luau Cauxi, entre outros. Mas os eventos não são festas quaisquer. É uma reunião da cena de música independente que vai desde o indie, o som regional, o hip hop, o reggae até o brega. E todas de música própria.
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A Popload agradece muito: Nathane do Vale (reportagem), Erick Omena (reportagem), Juliana Rosa Pesqueira (fotos), Afonso de Lima (produção).
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* O Mapa do Rock é um projeto da Popload em parceria com a GOL Linhas Aéreas Inteligentes.
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