Lollapalooza Brasil 2018 – O olhar definitivo, as resenhas definitivas e a real sobre a Lana del Rey. Ou não?

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Vamos lá. Lollapalooza assimilado, músculos descansados, Palmeiras na final, série “Wild Wild Country” terminada, Depeche Mode já se foi, então é o seguinte.

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Pelo quinto ano consecutivo, o brasileiro fã de música (de qualquer estilo, para qualquer idade) foi atééé Interlagos para mais uma edição do Lollapalooza Brasil 2018. E, como se não bastassem dois dias de maratona, o festival inventou um terceiro dia, na sexta-feira. E daí um quarto, gratuito e parte de uma ação publicitária, na quinta-feira. Isso sem contar os Lolla Parties. Ou seja, se não fosse o anúncio bombástico do Popload Festival na segunda-feira, diria que praticamente moramos a semana passada inteira neste Lolla que recém-acabou e acabou com a gente, de corpo e alma. Devemos ter ido mais a Interlagos, já, que o Senna e o Emerson.

Como a gente já vem dizendo há alguns anos, os festivais de música (no mundo) vêm passando por uma “Coachellização” na última década. Inspirados no festival que acontece anualmente em um deserto da Califórnia e que começou todo “alternativo” e que hoje se pauta no pop e comporta milhares de influencers por metro quadrado. Nem só de bandas e música vive um evento deste porte hoje. Eles estão lá, mas segurando um lineup para um público que também quer… “experiências”. Que quer slack line, cama elástica, roda gigante, brindes, tattooaria e barberia entre um show e outro. Mas, principalmente, um público BEM mais jovem que quer só curtir uma balada com música para dançar. E é aí que entram as “novas bandas”: os super DJs, que a cada ano ocupam mais palcos e mais horários. Tipo o Alok, talvez o DJ mais famoso do mundo hoje, que tem música propria, música com o Jagger, música com a Anitta, música com sertanejo, e rivalizou (ou quase) na escalação com o extrafamoso Red Hot Chili Peppers.

Bem, fizemos nossa tradicional lista do que ROLOU e NÃO ROLOU (ou, Precisa Melhorar, porque, como “evento”, o Lolla está cada vez mais caprichado, em tudo o que isso tem de bom e de ruim). Mas vamos dizer que o “Não Rolou”, para o bem de festival e público, está bem “modesto” para um festival desse porte.

Você pode contribuir, comentar, concordar e discordar nos comentários. A gente vai ajeitando por aqui.

*** ROLOU ***

* Parece que o público se adaptou de vez ao sistema cashless. O festival também distribuiu bem seus pontos de alimentação e bebida. Festival sem fila não existe, então levando isso em consideração, e que por lá circularam 100 mil pessoas por dia, o Lolla acertou.

* A proximidade do palco AXE com o do ONIX. Apesar do declive (você via o show praticamente tombado), sair do show do LCD e não precisar andar alguns km para ver Mac DeMarco não tem preço.

* Pontualidade: impecável. 

* O tempo! Não é mérito da produção, mas temos que destacar essa façanha da natureza. Lembrando que a previsão para o fim de semana era de tempestades e que na Argentina vários shows foram cancelados por este motivo.

* Apesar do clash entre RHCP x Mac DeMarco e The Killers x Wiz Khalifa, não houve grandes conflitos no lineup. A organização distribuiu bem os horários entre palcos maiores e menores e todo mundo saiu satisfeito. 

* Telões potentes e muito bem utilizados pelas bandas. De onde você estivesse, você conseguia ver os shows .

*** NÃO ROLOU ***

* Um terceiro dia é sempre uma boa ideia, afinal, são mais bandas para a gente ver. Mas São Paulo, definitivamente, não é uma cidade que permite que um cidadão, em dia útil, consiga chegar a Interlagos antes das 22h. A linha de corte é: se você esteve no show do Spoon no primeiro dia, você é um vencedor. 

* Metronomy às 15h. Poxa…

* Voltamos a frisar. É em Interlagos. Tudo bem para quem é lá de perto. Tudo mal para quem não é. Não precisa fazer show no Centrão ao lado do metrô, como outros festivais lindos fazem, mas há uma coisa de logística urbana a ser pensada durante o ano para melhorar o ir e vir, que é sempre caótico, cansativo e quase desanimador. Se é um dia, você encara o sofrimento, respira fundo e vai. E volta como der. Mas três dias…

*** SHOWS ***

Obviamente não estávamos lá para ver absolutamente tudo. Por isso, selecionamos, dentro do que vimos, nossos shows prediletos. Ou os que mereceram um destaque.

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– ROYAL BLOOD

A dupla apareceu por aqui no Rock In Rio uns anos atrás e conquistou muita gente. Agora com um bom público, fez bonito com seu show no Palco Onix, acho que o melhor palco do festival. Continua sendo uma barulheira enorme para só duas pessoas fazerem, no melhor sentido possível. No repertório, saiu a cover de “Iron Man”, do Black Sabbath, e entraram algumas músicas do segundo disco – que podem facilmente ser confundidas com as do primeiro. Se o Royal Blood engatar um terceiro disco mais variado e original, pode chegar a headliner num futuro próximo. Por enquanto, é só uma diversão de uma hora. E isso não é uma reclamação, veja bem.

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– LCD SOUNDSYSTEM

Facilmente o destaque da sexta-feira, e talvez do festival inteiro. Para quem acompanhou todos os shows da banda por aqui (só em São Paulo já foram cinco. Seis se você contar a noite extra do Lolla, na quinta-feira), fica claro o quanto o público do LCD cresceu. Músicas complexas, cheias de percussão e sintetizadores e, mesmo assim, tudo sendo tocado ao vivo, sem enganação. Basicamente um “Kraftwerk ao contrário”, para além das referências, pois você conseguir ver as mãos dos músicos fazendo tudo o que se podia ouvir. Para quem estava longe, as câmeras do festival fizeram um bom trabalho em enviar detalhes da performance para os telões laterais do Palco Onix. Já o telão central, atrás da banda, acendia apenas em momentos estratégicos, só com tons de cores, de maneira a acrescentar à ambientação da música, não distrair. Apesar da banda insistir que eles “don’t do hits”,  foi uma sequência de músicas conhecidas, cantadas em coro. Foi fantástico, e o tipo de coisa que um vídeo no Youtube (ou uma resenha num portal online) provavelmente não conseguem captar.

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– MAC DEMARCO

O show mais zoado que já vimos na nessa vida de shows zoados do Mac DeMarco. Do início ao fim, parecia que a banda estava lá só para se divertir e, quem sabe, tocar umas músicas. Mac estava animado, como de costume, e já iniciou o show agradecendo às pessoas que optaram por vê-lo em vez de estar no Red Hot Chili Peppers (que começou no mesmo horário em outro palco). As 12 faixas originais tocadas foram todas ótimas e só seriam melhores se houvesse mais delas. Isso não ocorreu porque, em diversos momentos, a banda parava o show para “brincar”. Pelo menos duas vezes, Mac recomendou o sanduíche do Estadão, famosa lanchonete de SP. Pelo menos cinco vezes, Mac tocou o riff de “Can’t Stop” do RHCP entre músicas – às vezes a banda acompanhava a piada, outras não. Chegou a ser cansativo. Para fechar o show, uma cover mais ou menos de “Under the Bridge”, do RHCP, com Mac na bateria e o baterista Joe McMurray no vocal. Destaques para uma ótima execução de “Brother”, bem mais lenta que na versão original do disco, e para o telão, que ficou exibindo uma gameplay do jogo “Earthbound” (1994) durante todo o show.

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– RED HOT CHILI PEPPERS

Acompanhamos ali, tão longe e tão perto, de uma banda veterana competentíssima mas com performance protocolar, com jams chatas no meio. Mas conseguimos ouvir Under The Bridge ao vivo duas vezes na mesma noite. Nunca mais teremos essa experiência.

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– DAVID BYRNE

Se teve um show para fazer rivalidade com o LCD Soundsystem, foi esse. Igualmente bem executado, porém com menos efeitos visuais e muito mais movimentação no palco. David Byrne trouxe vários músicos ao palco, todos vestindo ternos iguais, todos em pé e todos dançando. A bateria foi dividida em várias partes, como numa banda marcial. Os dois backup singers – uma mulher, um homem – faziam coreografia e animavam a plateia. E tudo dava muito certo, de alguma maneira. O repertório misturou clássicos do Talking Heads com músicas de seu último disco solo. Levando em conta que a grande maioria da plateia estava apenas esperando o show do Imagine Dragons, que viria horas depois, tudo poderia ser um desastre, mas a reação a quase todas as canções foi excelente. Será que os fãs de Imagine Dragons se animaram devido à quantidade de instrumentos de percussão no palco? Em especial, “I Dance Like This” fez tanta gente dançar a coreografia dos backup singers que Byrne ficou rindo sozinho ao fim da música. “Privilégio” é uma palavra que descreve a sensação de ter visto esse show.

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– THE NATIONAL

Escalados para o fim de tarde de sábado, o The National teve que enfrentar dois obstáculos: além do clima de verão que não combina lá muito bem com a melancolia das músicas do grupo, eles ficarem no sanduíche cruel entre o show genial e divertidíssimo do David Byrne e o grande headliner da noite, Pearl Jam. Comandada pela voz marcante e inconfundível de Matt Berninger, a banda volta ao Brasil pela terceira vez para divulgar o excelente disco “Sleep Well Beast”. As canções do álbum permearam a apresentação entre hits mais antigos, como as adoradas “Bloodbuzz Ohio” e “I Need My Girl”. Das “dificuldades” citadas acima, nenhuma impediu o show vigoroso que a banda fez, sem qualquer falha. Com poucas pausas e interações com a plateia, The National fez muita gente se emocionar. Afinal, foram oito anos de espera. A apresentação entra para a lista das melhores do dia. Até os fãs de Eddie Vedder colaboraram, em silêncio (OK, sentados, mas em silêncio). 

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– PEARL JAM

Menos protocolar, mais animado e mais cheio que o RHCP no dia anterior, Pearl Jam apresentou um setlist rico e variado, além da já esperada ótima performance de sempre. Dá para dizer, tranquilamente, que a banda nunca fez um show ruim no país. Eddie Vedder tentou se comunicar varias vezes em português com a plateia, se emocionando ao falar dos protestos contra as leis de posse de armas nos EUA, e arrancando o maior aplauso da noite quando pediu para mostrar sua (belíssima) guitarra no telão do festival, mas em cores rompendo com o preto-e-branco do restante das imagens do show. O atraso para o início do fim não se converteu em corte de músicas – pelo contrário, tocaram tudo o que havia sido planejado no enorme setlist, trocando apenas “Habit” por uma cover de “Pulled Up”, do Talking Heads (segunda vez na história da banda que tocam esta, de acordo com o setlist.fm). Só “Yellow Ledbetter”, bem ao fim do show, teve que ser cortada pela metade antes que desligasse o som, por restrições do próprio festival. Porque, se deixa, o Vedder estaria tocando até agora lá.

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– METRONOMY

Uma das bandas mais delícias da vida para fazer um som à noitinha ou num final de tarde gostoso, o Metronomy mandou seu indie-dance eletrônico-new wave num horário cedo demais, num calor forte demais. E ainda assim foi bom. Não é qualquer banda que tocou neste Lollapalooza que emendou uma trinca de músicas tão feliz quanto “Everything Goes My Way”, “The Look” e “Reservoir”. Fora “The Bay”, uma das canções mais bonitas da minha vida, numa levada disco preguiçosa ideal para a ocasião. Momento para assistir ao show com um Aperol na mão e mergulhar no mar depois. Pena que não era o caso de nem um, nem outro. Mas tinha “The Bay”, pelo menos. Show para se ficar com um sorriso bobo por alguns bons minutos, depois de seu final.

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– LIAM GALLAGHER

Nosso amigo Liam Gallagher, que já foi semi-Deus, um ser risível e voltou a ser Deus, deu showzão. Sua pose é a de sempre, sua banda é boa e a cacetada de música do Oasis do concerto funciona muito melhor com ele do que com o Noel. E, quando suas músicas próprias, a do bem-bom disco solo (esquece a chatura do Beady Eye), ajudam a compor um decente line-up zoado de ex-sucessos com novas tentativas de se manter relevante, o menino entrega o que se espera dele. Eu, como fanzoca de Oasis, me senti supersonic. Você pode ter tudo o que quer. Mas quanto você quer?

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– LANA DEL REY

Você pode não gostar das músicas lentas-drama da Laninha, achar que ela usa playback e faz muita pose, mas, quando diante dela e com um telão de alta definição na cara dela, pode reparar, amigxs: ela está ali sofrendo por você. cantando para você. Miss Del Rey sabe o que é e do que é capaz. Diante do maior público de sua vida (eles disseram), fez o kitsch parecer bacana, fez sua famosa performance de cabaré triste para o quê, 50 mil pessoas?, parecia que ia chorar na hora em que suas letras pediam choro. Fez cara de levada quando sabia que, naquele momento da música, a situação estava sob seu controle (nas letras, again). Foi deusa, pin up, Marilyn, tudo num show só: abriu as pernas “sexywise”, deu beijinhos na galera, zoou o Radiohead, fumou, deitou e rolou. E ajudou a fazer do palco Onix, talvez o terceiro palco do Lolla, o melhor lugar do festival. Que mulher! Que show!

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– THE KILLERS

Grande banda, grande show, grande Brandon. O Killers, a gente acompanha aqui desde os primórdios, já foi banda incrível, banda cool, banda chata, banda desinteressante, acabou, voltou e encontrou na fase da “decadência” a sua essência do início. Ressuscitou bonito. Seus muitos hits voltaram a fazer sentido ao vivo. Brandon Flowers é um baita de um crooner, seja com qual cintilância seu casaco brilhe. Ainda teve invasão de palco bizarra do Liam Gallagher. Foi a quarta vez que o Killers tocou por aqui. Justo nessa fase de “retomada”, sem importante relevância contemporânea, digamos. Sem estar bombando por coisas novas. E o gozado é que foi seu maior público no Brasil. E seu melhor show.

** Fotos: I Hate Flash para Lollapalooza Brasil

** COBERTURA POPLOAD – Ana Carolina Monteiro, Fernando Scockzynsk Filho, Lúcio Ribeiro.

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