Top 50 da CENA – Gab Ferreira bota seu fruto proibido no topo. Jambu se aproxima em segundo. Alice Caymmi também desfruta do pódio

Que semaninha devagar na cena brasileira. O que será que aconteceu? Ninguém quis dividir atenção com o circo do Coldplay ou o vindouro Lollapalooza? Bom, mesmo com pouca atividade, a gente movimenta o Top 50. E uma semaninha mais lenta é sempre boa pedida para voltar atenção para o que deixamos passar. 

A Gab Ferreira vai abrir o Lollapalooza todinho. Por isso é preciso chegar cedo para sacar o show dela nesta sexta no palco Adidas, pois começa 12h. Para celebrar a conquista, Gab soltou um single que inaugura uma nova fase em sua carreira, buscando mostrar para a gente “um lado mais divertido e despretensioso, fazer algo energizante e ‘fresh'”. Funciona, viu? A nova track é boa para levantar o astral e empolgar. Seja empolgar para ir para o rolê ou para dar um jeito na bagunça da casa. Tomar um bom café na sexta para chegar cedo no Lolla é uma missão e tanto, mas precisa ser cumprida, viu.

Com nome emprestado de um clássico da Rita Lee, a turma de Manaus do Jambu levanta, nesta “Caso Sério”, uma canção de amor ensolarada, quase inocente, mas já esperta em aproveitar o tempo que se tem. A linha sonora é roqueira indie até o talo, com direito a riff pegajosos e um solo de guitarra raro de se escutar em 2023. O Jambu, formado por Gabriel Mar (vocal/guitarra), Roberto Freire (guitarra), Gustavo Pessoa (baixo) e Yasmin Costa (vocal e bateria,) tem a curiosidade de ter sido formada na época da pandemia, o pior momento possível para se inventar uma banda, mas segue firme e forte e chegou ao primeiro álbum, que leva o nome amplo de significados “Tudo É Mt Distante”. Com certeza, não mais tão distante agora, turma. 

O verão acabou, que coisa, né? É o ano voando, para variar. No universo de lançamentos recentes, deixamos passar essa suada canção da Alice Caymmi com a participação da Rachel Reis, uma ode à boa vibe, ` preguiça e ao desejo que todo verão proporciona. E vamos combinar? Verão é questão de querer, então desfrute agora mesmo, pô. Fora o verso gilgilbertiano: “Eu gosto é mesmo de gostar”. Uma boa filosofia. 

Ainda sobre seu disco de 2021, o agitado “Marmota”, o figuraça Getúlio Abelha içou uma das faixas para transformar em single novo e trazer tudo para 2023. E não é que, pelo menos pelo exemplo desta “Voguebike”, forró-pop lascado, o cantor piauiense radicado em Fortaleza se mostrou bem atual? A sacada é boa: 2021 eram épocas de incertezas por onde quer que olhávamos. E esta música combina mais mesmo com os tempos de hoje. O vídeo, lançado nesta semana, é uma delícia. Veja. Ouça Getúlio Abelha, o cara que é a resposta de algo que nunca imaginaram: que haveria conexão possível entre o punk e o forró.

Estamos impactados pelo showzão dessa banda curitibana de shoegaze que vimos em São Paulo recentemente? Opa se estamos. Ver a turma derramar seu som no aconchego do Bar Alto e no evento Balaclava do Deafheaven domingo destes deixa impossível não voltar ao excelente álbum de estreia deles: “olhar pra trás”, tudo em minúsculo, ok, recém-lançado. Vale ponderar, apesar da forte influência shoegaze, que a sonoridade do quarteto vai além desse chão. E são diversas. Seja um pouquinho de post-rock, um primo do showgaze com outras ambições, ou pouquinho de rock nacional radiofônico – repare que eles já regravaram a mais triste da Pitty. As letras em português ainda que levemente enigmáticas ajudam a criar uma conexão imediata com o ouvinte – isso se prova pelos fãs que eles acumulam nas redes sociais. Talvez ainda não seja muita gente, mas são todos apaixonados, certamente. 

A sacada da Rosalía em colocar um pouco de samba no seu reggaeton fez ÀIYÉ, a persona solo de Larissa Conforto, considerar inverter as coisas e botar um reggaeton dentro de um bloco de Carnaval. A inversão é sutil, mas que muda a operação e o resultado, ainda que o vocal em espanhol deixe bem evidente quem foi que provocou o questionamento. A letra ainda aproveita e trata de um tema sempre urgente: sacar a hora de dar um BASTA em qualquer relação tóxica – na conta de Larissa estão “relações românticas, profissionais ou amizades”. A gente até acrescenta mais uma aí. No caso, a relação tóxica consigo mesmo. Concorda, Lari? 

A carioca Marcela Mahmundi deletou as fotos antigas do seu Instagram e reapareceu por lá com imagens em preto-e-branco que anunciam uma nova fase em sua carreira. Vem disco novo aí? O single “Sem Necessidade” é a primeira parte desse novo momento. Uma música que fala sobre entrega, sobre se sentir confortável com o outro/consigo e se permitir ficar – “sem necessidade de fingir”. Quanto ao som, a ruptura não foi tão brusca, mas dá para dizer que esta nova, que tem participação do Tagua Tagua, é um tiquinho mais eletrônica que a maioria das coisas de “Mundo Novo”, seu álbum anterior – lançado ainda no começo da pandemia da covid-19. Esse é um território já explorado por Marcela? Sim e não – suas primeiras gravações tinha esse toque mais puxado pelos sintetizadores, mas era outra parada, outra vibe, outro caminho. Mahmundi parte na trilha para uma nova trilha. 

Outro que deletou tudo de passado na timeline do Instagram para puxar uma nova fase foi o carioca Cícero. “Longe” conta com uma letra muito puxada pela clássica “Foi Mal Tava Doidão”, ainda que a mesma letra pontue que isso não justifica o vacilo do narrador. O protesto para que a outra pessoa não suma da vida de quem resolveu protestar tem inspiração em audições de Beach Boys e João Gomes, de acordo com o próprio Cícero. Não soa irreal, como alguns podem suspeitar. O refrão de longe cairia bem na voz do romântico cantor pernambucano. Alguém manda essa no zap dele?  

O rapper paulistano Kamau anda seguindo uma linha muito curiosa em seus novos singles. Já são três em 2023 e todos com pouco menos de um minuto. É tudo questão de classe e de muita habilidade e treino para conseguir dar tanta ideia certa em tão poucas linhas. É como se Kamau desafiasse a si mesmo e também mandasse um recado para a CENA. Você consegue valorizar cada segundo do seu som ou anda enchendo linguiça por aí? 

Bom mineirinho de Diamantina que é, César Lacerda aparece de frente para o mar na capa de “Verão”, seu novo EP. Um trabalho que logo diz a que veio: uma ode ao verão de 2023, livre de um governo nefasto e com um pouquinho mais de rua e de alegria. Uma celebração que vem de César de maneira nada alienada ou deslumbrada. Atento crítico da cena cultural brasileira, César avisa no texto que anunciou o EP: “Aliviado pela possibilidade de respirar um ar menos denso, menos tóxico, apesar de tantos obstáculos pela frente”. É fazer caber algum amor agora e seguir na luta.  

11 – Rogê – “Pra Vida” (7)
12 – Raimundos – “A Mais Pedida” (8)
13 – Carolina Maria de Jesus – “O Pobre e o Rico” (com Nega Duda) (9)
14 – Jards Macalé – “Coração Bifurcado” (10)
15 – Rodrigo Campos – “Atraco” (com Mari Tavares) (11)
16 – Rubel – “Lua de Garrafa” (com Milton Nascimento) (12)
17 – Assucena – “Nu” (13)
18 – Sessa – Vento a Favor” (14)
19 – Tetine – “Spaced out in Paradise” (15)
20 – Marina Sena – “Tudo pra Amar Você” (16)
21 – MC Tha – “Coisas Bonitas” (com Mahal Pita) (17)
22 – Bin Laden e Gorillaz – “Controllah” (18)
23 – Bike – “O Torto Santo” (19)
24 – Alcione – “Acorda Que Eu Quero Ver” (20)
25 – Pabllo Vittar – AMEIANOITE (com Glória Groove) (21) 
26 – Mateus Fazeno Rock – “Melô da Aparecida” (22)
27 – Tagua Tagua – “Pra Trás” (23)
28 – Nina Maia & Chica Barreto – “Gosto Meio Doce” (24) 
29 – Chico César – “Ligue o Foda-se” (25)
30 – Sant – “Nuvem Negra” (26)
31 – Gustavo Bertoni – “Marionettes” (27)
32 – Danilo Cutrim – “Vai Cair” (29)
33 – Maria Beraldo – “Truco” (30)
34 – Jonathan Ferr – “Preterida” (31)
35 – Mu540 – “Jatada Nostálgica Automotiva” (32)
36 – Jup do Bairro – JUP ME” (33)
37 – Betina – “O Coração Batendo no Corpo Todo” (com Luiza Lian) (34)
38 – Karen Jonz e CSS – “Coocoocrazy (com CSS) (35) 
39 – 2DE1 – “Sin Perder La Ternura Jamás” (36)
40 – Sara Não Tem Nome – “Agora” (37) 
41 – Letrux – “Esse Filme Que Passou Foi Bom” (38)
42 – Marcelo D2 – “POVO . DE . FÉ” (39)
43 – Lurdez da Luz – “Devastada” (40)
44 – Anelis Assumpção – “Rasta” (com Mahmundi) (41) 
45 – Funmilayo Afrobeat Orquestra – “Wikipreta” (com Monna Brutal) (42)
46 – TUM – “Polychrome” (43)
47 – JP – “Arroz de Polvo (com Holger)” (44)
48 – Wry – “Carta às Moscas” (45)
49 – Tássia Reis – “Rude” (46)
50 – Der Baum – “I Got a Soul” (47)

* Entre parênteses está a colocação da música na semana anterior. Ou aviso de nova entrada no Top 50.
** Na vinheta do Top 50, a cantora Gab Ferreira, em foto de @kimcostanunes.
*** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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