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* Semana Arctic Monkeys. Já sabemos, o já vazado e já polêmico “Tranquility Base Hotel & Casino”, novo álbum da banda inglesa chefiada pelo intrépido e cabeludo Alex Turner, sai amanhã em plataformas virtuais e lojas físicas, sem singles, sem hits. Até estabelecimentos pop-up em grandes cidades do planeta vão vender o diferentão sexto disco do grupo inglês, o primeiro deles em infindáveis cinco anos.
A gente tem quebrado a cabeça com a nova obra do Arctic Monkeys para entender que porra o Alex Turner quis fazer. O poploader Fernando Scoczynski Filho começa o papo, que promete ser longo.
(Mais, cenas do show de ontem da banda no Brooklyn Steel, em Nova York, esgotadaço há tempos e cujo ingresso em cambistas chegou a ser vendido por R$ 800. Só para lembrar, esse show, em um lugar para 1.800 pessoas, teve seus ingressos totalmente consumidos em UM SEGUNDO de venda.)
Arctic Monkeys, “Tranquility Base Hotel & Casino”
primeira crítica
por Fernando Scorczynski Filho
Cinco anos atrás, o Arctic Monkeys lançava seu quase-epônimo quinto disco, “AM”, um trabalho bom, mas divisor de águas: beirou mais para o comercial, afastando uma galera indie e atraindo muitos fãs mais jovens que nem sabiam baixar MP3 quando saiu “I Bet You Look Good on the Dancefloor”. Como dizem uns por aí, “estragou a fanbase”.
Pois agora temos “Tranquility Base Hotel & Casino”, sexto trabalho da banda, tão diferente de “AM” quanto aquele era de seus trabalhos anteriores, mas que não deve atrair nenhum demográfico em massa – por enquanto.
Para começar, a banda optou por não lançar nenhum single para o disco. Pode parecer pretensioso, mas faz sentido após algumas audições: é uma obra coesa, com narrativa, estilo único, e sem destaques óbvios para chamar atenção. Realmente, parece que a intenção de Alex Turner & cia é fazer com que as pessoas escutem todas as 11 músicas – se conseguirem, ótimo. Porque vale a pena.
A música em si retoma os momentos mais atmosféricos, menos dançantes da banda. Sabe aquela playlist de influências para o novo disco que o Alex Turner divulgou um tempo atrás, cheia de artistas de trilha sonora italianos e franceses e o Lô Borges? O disco lembra muito isso, além de coisas como Scott Walker e David Bowie na fase Thin White Duke. As músicas são texturas, um fundo para as ótimas letras de Turner – que se consagra cada vez mais como compositor, e faz “Tranquility Base Hotel & Casino” merecer ser bem-recebido, sim.
Para tentar resumir: o álbum apresenta-se como uma obra de ficção científica pós-apocalíptica, onde a população da Terra (ou parte dela) se mudou para a Lua. O título do álbum em si se refere a um local real: Tranquility Base é a área da Lua em que os seres humanos pisaram pela primeira vez, em 1969. Turner canta sobre a vida neste futuro distópico, mas de maneira divertida, sem parecer um disco de rock progressivo maçante. É similar ao que Father John Misty fez no excelente “Pure Comedy” (2017), só que menos trágico, mais cômico.
Como toda boa ficção científica deve ser, Turner se refere mais a situações da atualidade que do futuro. Realidade virtual, líderes mundiais perigosos, gentrificação, e pessoas que não conhecem Blade Runner. Está tudo lá, sem lições de moral chatas. Porém, como só as melhores obras de ficção científica conseguem fazer, os detalhes do futuro servem para ocultar uma mensagem mais profunda, uma história mais humana. E é isso que a música “Science Fiction” deixa escancarado:
“I want to make a simple point about peace and love / But in a sexy way where it’s not obvious / Highlight dangers and send out hidden messages / The way some science fiction does”
E mais para o fim da letra:
“So I tried to write a song to make you blush / But I’ve a feeling that the whole thing / May well just end up too clever for its own good / The way some science fiction does”
É um reconhecimento óbvio de que o disco não é realmente sobre um cara na Lua com óculos de realidade virtual simulando a véspera de Ano Novo na casa do Batman. É sobre algo a mais, uma tentativa de falar sobre as falhas da sociedade, dos relacionamentos, dos seres humanos em geral. E cabe ao ouvinte achar seu próprio significado.
Basicamente, é uma trilha sonora para a cena do baile em “O Iluminado”, só que situado numa estação espacial, com roteiro e direção do criador de “Black Mirror”.
Faz sentido?
O show do Brooklyn, neste atual giro norte-americano do Arctic Monkeys, foi mais ou menos assim contado pela galera:
Do I Wanna Know?
Crying Lightning
Brianstorm
Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair
Why’d You Only Call Me When You’re High?
Four Out of Five
505
The Hellcat Spangled Shalalala
I Bet You Look Good on the Dancefloor
Cornerstone
One Point Perspective
American Sports
Snap Out of It
You’re So Dark
Pretty Visitors
Knee Socks
One for the Road
Bis:
She Looks Like Fun
Arabella
R U Mine?
** As fotos usadas neste post são do PSquared e apareceram no site indie bacanaço Brooklyn Vegan.
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